O jogo da Vida

Estava eu esses dias dirigindo distraído, pensando na morte da bezerra, como diriam na roça, quando veio a pergunta cabal do filho. Aquela que te pega desprevenido. Facada no rim.

            - Papai, você já notou que somos perdedores?

Nesse momento os pensamentos entram em curto-circuito. Como assim “perdedores”? No sentido de fracassados? Incompetentes? Fracos? Qual fato teria provocado essa análise tão determinante? Tão novo e com um pessimismo tão forte!  Num instante de lucidez, quando a consciência assume depois do colapso, veio o aprendizado de fazer a repergunta.

            - Como assim “perdedores”, meu filho?

            - A gente sempre perde as coisas papai. Você já perdeu seu avô e um dia vai perder seu pai. E um dia eu vou perder você também.

Bateu-me aquele alívio tranquilizador. Entendi. A preocupação da perda. Coisa comum nessa fase da vida em que o pequeno se encontra. Por um momento, todos achamos que os pais são imortais e, quando descobrimos o erro, somos levados ao receio constante. O mesmo temor que nós, pais, temos quando nascem os filhos. O amor por aqueles pequenos seres é tão incomensurável que o simples pensamento de os perder nos leva à histeria mental. Nesse momento de reflexão, pensei na alegria que senti quando ele nasceu e, de maneira suave, tentei responder a sua inquietação.

            - É verdade, meu filho. Mas também é verdade que somos ganhadores. Quando você nasceu eu ganhei você. E você ganhou quando suas priminhas mais novas nasceram.

Olhei pelo retrovisor esperando ver sua reação e notei um sorriso em seus lábios. Ele havia entendido a mensagem e, por ora, havia aquietado seu pequeno coração da angústia da perda. Aproveitei a porta aberta e disse-lhe que esse era um dos sentidos da vida. Entender que algumas vezes ganhamos e outras perdemos. E que as perdas doem assim como os ganhos alegram. E, ao final, a felicidade é um resultado dessa equação matemática: não podemos jamais esquecer as perdas, mas, ao mesmo tempo, temos que buscar e valorizar os ganhos. Sempre.

Seguimos então o caminho. Cada qual com seus pensamentos, suas perdas, seus ganhos e seus sorrisos nos rostos.

Por Guilherme Augusto Santana